HOMENAGEM A BEZERRA DE MENEZES

sexta-feira, 7 de setembro de 2012





HOMENAGEM A BEZERRA DE MENEZES
                                                                                            Francisco Cândido Xavier


A mensagem de Maria Dolores foi obtida em nossa reunião pública, levada a efeito em homenagem ao nosso caro benfeitor espiritual, o dr. Bezerra de Menezes. O tema em estudo foi o item 11 do capítulo XIII de O evangelho segundo o espiritismo, intitulado "Beneficência". Após os comentários da noite, a nossa querida irmã compareceu com sua página poética Mãos benditas. Nota – Adolfo Bezerra de Menezes Cavalcanti foi eminente médico cearense que residiu longos anos no Rio de Janeiro, tendo se destacado na vida política e intelectual da Corte, onde exerceu elevadas funções públicas. Convertendo-se ao espiritismo, tornou-se verdadeiro apóstolo da doutrina. Dedicou-se à assistência social de tal maneira, que passaram a chamá-lo de Médico dos Pobres. Por suas atividades na divulgação e prática da doutrina, foi cognominado de Kardec brasileiro. Tendo nascido a 29 de agosto de 1831, as instituições espíritas de todo o país costumam prestar-lhe homenagens no correr do referido mês. Na sua bibliografia figura um volume de relevante importância médica, intitulado A loucura sob novo prisma.



MÃOS BENDITAS  •  Maria Dolores


Escuta-nos, senhor,
Na luz do lar Celeste!
Desejamos, Jesus, agradecer-te
As mãos benditas que nos deste!
Aquelas mãos sublimes
Que nos entreteceram o berço
Entre as forças do mundo,
Que fizeram escolas,
Aquelas que tomaram nossos dedos,
Revestidas por ti de amor terno e profundo
A fim de penetrarmos nos segredos
Das palavras e letras da instrução...

As que encontramos no caminho,
Quando a sombra da mágoa nos alcança
E acendem para nós com simpatia
O facho da esperança.
Aquelas que nos trazem,
Ao sol do dia a dia,
Exemplos de trabalho.
As que cavam a terra,
Muita vez suportando espinhos agressores
E vibram de alegria
Ao vê-la transformar-se em celeiro de flores!

As que fazem o pão,
As que costuram vestes multiformes,
Cobertura e agasalho,
Aquelas que nos dão
A bênção da limpeza,
As que buscam nos dons da Natureza,
Quantas vezes, cansadas de lutar,
Os recursos da vida
Que nos erguem o lar...

As que socorrem os doentes,
As que se inclinam para os sofredores,
Em recintos de angústias, lares e hospitais,
Que afagam companheiros indigentes
Ou que protegem pobres pequeninos
Revelando desvelos maternais!

As que orientam para a ordem,
Garantindo a justiça e a segurança,
As que escrevem bondade, educação, beleza,
Em que a estrada se eleva e a mente se aprimora,
Criando, mundo afora,
Ideias de otimismo, reconforto,
Das quais se estende à luz de surpresa em surpresa...

Aquelas que se humilham quais violetas
E, revolvendo o pó,
Levantam nosso irmão ou nossa irmã
Caídos nas sarjetas
Ou no esgoto comum,
De coração dizendo a cada um:
– “Você não está só.”

As que foram batidas
Por críticas mordazes
E prosseguem agindo como fazes,
Retribuindo o mal com o bem;
As que ajudam e passam
Sem ferir a ninguém...

Benditas sejam elas
Todas as mãos, Senhor, que
procuram servir,
– Exército de estrelas a buscar-te,
Edificando, em toda parte,
O Reino do Porvir.

E agradecendo-as, rogo-te, Jesus:
Toma-me as mãos vazias,
Faze-me trabalhar
Em todos os meus dias!
E porque me conheça
Tão pobre quanto sou,
De revés em revés,
Sem nem mesmo poder
Aspirar, ante os séculos futuros,
À sublime ventura,
Anseio conquistar a posição
Da serva que se esqueça
Nas tarefas de amor que o teu amor reparte,
E, a despeito de minha imperfeição,
Frágil, errada e inculta, quero dar-te
Meu próprio coração.


 
 
EXÉRCITO DE ESTRELAS  •  J. Herculano Pires (Irmão Saulo)

As mãos de Bezerra de Menezes, o Médico dos Pobres, foram na terra às fiandeiras da caridade. Trabalharam intensamente, desde o seu tempo de estudante, em favor dos necessitados. E enquanto elas teciam a rede de socorro e assistência aos pobres, sem esquecer os ricos, para os quais usava a sua inteligência e a sua cultura, ele tecia sem querer e sem saber a sua própria túnica de luz para a vida espiritual. Maria Dolores se inspira nessas mãos benditas para nos enviar a sua mensagem poética. E toda essa mensagem é um cântico de amor aos homens, chamando-lhes a atenção para a responsabilidade das mãos. Os que amam a poesia gráfica e portanto sensorial dos nossos dias, os hieróglifos da chamada poética de vanguarda, não gostarão dessas estrofes despretensiosas e lineares (porque racionais) da poetisa espiritual. Mas os que não se apegam à forma e procuram a substância poética sentirão a música inaudível desses versos.
Os pintores nem sempre deram a devida importância às mãos de Jesus em seus quadros. Mas um pintor paulista, Vicente Caruso, fez um quadro de Jesus em que a mão se destaca. Todo o valor do quadro está naquela mão – apenas uma – em posição vertical, revelando em suavidade e pureza a missão do Salvador. O médico dr. Silvio Marone escreveu um pequeno, mas valioso ensaio sobre a psicologia das mãos na Ceia de Da Vinci, analisando a linguagem das mãos.
Essa linguagem se traduziu mediunicamente nas materializações de mãos produzidas através do médium Daniel Douglas Home, um gentleman escocês que se celebrizou pelo borboletear das mãos em suas manifestações, embora nunca tenha sido espírita.
As mãos dizem o que somos, porque somos o que fazemos através delas. Podemos semear a destruição e podemos semear o amor com as nossas mãos, mas devemos lembrar que colheremos o que semearmos. Por isso, a poetisa quer inscrever as suas mãos no “exército de estrelas” que luta na Terra em busca de Jesus.
Há um poema de Michel Quoist, muito divulgado, em que ele agradece a Deus os braços e as mãos que nos deu, “enquanto tantos existem sem braços”. Refere-se também aos outros membros e órgãos que possuímos, “enquanto muitos não os possuem”.
Maria Dolores não comete esse feio 'pecado' de egoísmo. Ela sabe que os mutilados de hoje recuperarão amanhã os membros perdidos e não devem ser apontados como consolo egoísta para nós. Por isso, atém-se a louvar as mãos benditas que trabalham na construção do bem. É como se nos dissesse: “Emprega bem as tuas mãos, para que elas nunca te faltem.” E aos que não as possuem: “Quando recuperardes as mãos, empregai-as sempre no bem.”



Artigo publicado originalmente na coluna dominical "Chico Xavier pede licença"
do jornal Diário de S. Paulo, na década de 1970.

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